Eu vejo-te

16-04-2020

Eu vejo-te. Os outros não. Eu sou a única que te vê.

Não estás a perceber. Eu vejo-te, vejo quem tu és, vejo o teu eu que não mostras ao mundo. Eu sei quem tu és, tu. Mais ninguém sabe, mas eu olho-te nos olhos e vejo-te, nu e desprotegido, vulnerável e frágil. Durante tanto tempo lutaste para que todos te vissem como o guerreiro sem alma que mostras ser. Acordas, levantas-te e transformas-te. No entanto, nesses teus sonhos profundos onde és tu, nessas viagens enigmáticas ao teu consciente tu vês-te num espelho e sorris. És tu.

Eu estou do outro lado, tu não me vês. Eu vejo-te. Sorrio. És tu. Nunca gostei de quem és para os outros, esse não és tu. Essa máscara de força imparável e de uma resistência desmedida e de uma adoração - quase veneração - por todos. É ridículo porque não és tu.

Tu não queres fingir, mas acreditas que só assim és feliz. A vida obrigou-te a ser forte e tu tornaste-te nessa alma que eu não conheço. Não te julgo, eu própria tenho os meus demónios. Apenas me pergunto se alguma vez me poderás ver como eu te vejo, para além de mim, para mim.

A primeira vez que te vi, que te vi realmente, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi esperança. Senti a esperança de que, assim como eu, alguém finalmente visse o mundo para além das aparências - não apenas as pessoas, o mundo. Por momentos enganaste-me, julguei-te capaz de tal. Não foste. Deixaste-me e isso não mostrou a tua fraqueza, mas sim a tua ingenuidade. Que ingénuo és em deixar a única alma que te aceitou, ao teu eu mais fiel e mais verdadeiro, ao teu eu destroçado e estilhaçado que só precisava que alguém lhe segurasse a mão e o ajudasse a apanhar todos os pedaços que orbitavam perdidos à sua volta.

Que é feito dele? Escondeste-o de novo? Só o visitas no sono?

Às vezes apareces nos meus sonhos. Não tu, ele. Esse eu que me acolheu nos braços com toda a saudade do mundo num só gesto.

Tenho pena de que o mantenhas cativo dessa alma negra e tirana. Um dia ele vai fugir e não vai voltar para ti. Nesse dia, dir-lhe-ei adeus e dir-lhe-ei que sempre sonhei com ele, mesmo no final. 

Lorena. Sim, Lorena. - Blog pessoal
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