Anjos e humanos
A minha paz existencial foi perturbada por uma criatura angelical de cabelos escuros feitos ondas do mar. O meu salvador. A sua presença invocava uma paz divina, é por isso que o comparo a anjos. Mas nem tudo o que parece bondoso o é.
Ele entrou, confiante como sempre. As suas feições perfeitas carregavam uns óculos frágeis e redondos e a sua postura só demonstrava segurança. A segurança que ele me dava. Ser humano pateta que se apaixona por um anjo e acredita ser correspondido. Aproximei-me com uma confiança que não tinha, mas que a sua aura me irradiava. Não fiz apostas nem consultei o oráculo, deixei o Destino decidir quando e quanto me ia magoar - sim, porque essa era a única certeza que eu tinha, que ia sair magoada desta história apocalíptica.
Depressa o meu corpo se habituou ao abraço das suas asas. Eram o meu lugar favorito. Pode alguém ser o nosso lugar favorito? De qualquer das formas, ele foi o meu.
O problema é que os humanos não ficaram no Paraíso. Então, como uma vida retirada num sopro, eu voltei a mim, voltei à minha existência, nunca mais pacífica, reles e humana. Quando me apercebi não era a mim que as tuas asas abraçavam. Tinhas o teu anjo e viviam em perfeito equilíbrio. Afinal, nós humanos não fomos feitos para as criaturas angelicais.
Magoei-me mais do que pensava. Ainda escrevo sobre ti, como podes ver. É saudade ou só dor acumulada? Seja como for, o Destino trocou-me as voltas porque o que eu te omiti é que sempre pensei que íamos acabar juntos.
Agora volta para o teu anjo e para a tua vida de perfeição. Não percas tempo a ler as palavras da humana que te entregou a sua alma.
Eu sobrevivo. Sem ti.